O que faz o boi soltar menos gases que levam ao efeito estufa? Conheça as técnicas usadas em Mato Grosso

  • 26/07/2024
Na série 'PF: prato do futuro', g1 mostra como pecuaristas da Liga do Araguaia estão aumentando a sua produção preservando o meio ambiente. Como a pecuária pode reduzir a emissão de gases poluentes O Brasil é o maior exportador de carne do planeta e tem o segundo maior rebanho bovino do mundo, depois da Índia. São 234 milhões de cabeças de gado, mais boi do que gente (o Brasil tem 215 milhões de habitantes). Mas esses recordes também colocam o país no centro do debate sobre o aquecimento global 🔥. E um dos motivos tem a ver com o arroto do boi. Isso porque, no seu processo de digestão, o gado produz o metano (CH4), um dos principais gases que contribuem para o aquecimento da atmosfera. 'PF: prato do futuro': nova série do g1 mostra soluções para desafios da produção de alimentos Há pelo menos 50 anos, pesquisadores brasileiros estudam formas de produzir carne de forma mais sustentável. A série "PF, prato do futuro", do g1, foi até Mato Grosso, onde está o maior rebanho bovino do Brasil, para mostrar as soluções aplicadas pelos produtores da Liga do Araguaia. Essas técnicas fazem com que menos gases poluentes sejam liberados no ar e também combatem o desmatamento, outro causador do aquecimento global. Assista no vídeo acima. Nesta reportagem, você vai ler sobre: Do que a pecuária é cobrada Como a alimentação pode reduzir emissão de metano A técnica que produz mais carne em menos terra Plantação e pasto integrados Do que é pecuária é cobrada No Brasil, a agropecuária é a segunda maior fonte de emissão de gases de efeito estufa (26%). A primeira é o desmatamento (48%), que tem, como algumas de suas causas, a conversão de vegetação em áreas de pastagens (saiba mais aqui). Esses dados são do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, e se referem a 2022, último período em que essas informações foram atualizadas. Naquele ano, o rebanho bovino brasileiro produziu 14,2 milhões de toneladas de metano, o que corresponde a 70% de todo o CH4 emitido pelo Brasil. Boi emite metano pelo arroto Alimentação do boi e o metano Por ter um grande território, o Brasil cria 95% do seu rebanho em pastos e, por isso, a base da alimentação dos bois do país é o capim, que é rico em fibras. "Tudo o que o animal come vai gerar metano. Mas, quanto mais fibrosa for a dieta, maior vai ser a produção de metano por quilo de alimento consumido", diz o especialista em nutrição bovina Sergio Raposo Medeiros, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na unidade Pecuária Sudeste. Existem formas de reduzir a formação de CH4 no processo de digestão. Na Fazenda Santa Rita, além de capim, os bois recebem uma suplementação alimentar, ou seja, uma ração na qual são acrescentados aditivos que diminuem a quantidade de bactérias metanogênicas no rúmen do boi. "Existe uma vasta gama de opções de aditivos com o potencial de reduzir a produção de metano [durante a digestão do boi]. A gente pode utilizar aditivos ionóforos, não ionóforos, óleos essenciais, algas, taninos", conta o pecuarista Braz Peres Neto, da Fazenda Santa Rita. Em sua propriedade, ele utiliza os ionóforos, que são substâncias usadas em doses muito pequenas na ração. O que o arroto do boi tem a ver com o aquecimento global? Segundo o pecuarista e o pesquisador da Embrapa, os aditivos têm uma dupla vantagem: além de reduzirem a produção de CH4 no rúmen, contribuem para o boi ganhar peso. Isso se explica pelo seguinte: quanto mais metano um boi produz, mais energia ele perde. Portanto, quando o pecuarista usa aditivos para reduzir a produção desse gás, o boi, consequentemente, vai ter menos perda energética. A suplementação alimentar na Fazenda Santa Rita conta com proteínas, como o farelo de soja, e carboidratos, como o milho moído, além de sais minerais. Segundo Braz, esse "plus" na alimentação é importante para fazer com que o boi chegue, em menos tempo, ao peso ideal de abate, que é de, no mínimo, 550 kg. Frase 1 - Ciclo de vida do boi - Braz Peres Neto No Brasil, o boi demora três anos, em média, para chegar ao peso ideal de abate. Mas, com uma suplementação alimentar aliada a técnicas de melhoramento genético, é possível ter um boi gordo em apenas dois anos, dois anos e meio, diz Braz. Produzir mais carne em menos terra Outra técnica que pode melhorar o desempenho animal e, ao mesmo tempo, preservar o solo e evitar o desmatamento é a intensificação de pastagem. Nesse sistema, o pasto é divido em vários piquetes, ou seja, áreas menores, e o pecuarista vai mudando o gado de lugar à medida que o capim vai acabando. Na Fazenda Água Preta, em Cocalinho (MT), eles fazem uma rotação a cada sete dias. O capim novo - e bem cuidado - possui menos fibra, o que também ajuda a reduzir a produção de metano durante a digestão bovina, destaca Medeiros, da Embrapa. Intensificação da pastagem “A intensificação de pastagens nada mais é do que ter o maior número de animais por hectare, produzindo a mesma quantidade ou mais de quilos [de carne] por dia do que uma área de pastejo convencional", diz João Paulo Massoneto, que administra a Fazenda Água Preta. "É um sistema que permite um uso mais eficiente do solo e das áreas que já estão consolidadas, evitando ou diminuindo a pressão de desmate", acrescenta. Além disso, na intensificação, o pecuarista não pode deixar o pasto degradar, já que os bois sempre vão voltar para a mesma área. É por isso que, nesse sistema, o solo e o capim recebem os mesmos cuidados que os de uma plantação, como adubos e técnicas de correção. Aliás, essa é uma tendência de um processo de profissionalização pelo qual a pecuária vem passando nos últimos 40 anos, ressalta o pesquisador Moacyr Bernardino Dias Filho, da Embrapa Amazônia Oriental. Para ele, se, a partir de meados dos anos de 1980, recuperar pastagem passou a ser uma preocupação dos pecuaristas, de 2000 em diante, aumentou o interesse deles em preservar os pastos. Segundo Dias Filho, além disso ser mais sustentável, custa menos. Frase 2 - Recuperação de pastagem Plantação e pasto integrados Uma pastagem bem conservada, onde há uma renovação constante de vegetação, também contribui para o sequestro de carbono da atmosfera. Sequestro de carbono É por isso que, quanto mais plantas, maior é a captura de carbono e, portanto, maior também é a qualidade do ar. Existem outras formas de produção de alimentos que têm potencial de sequestrar carbono, como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e a Integração Lavoura-Pecuária Floresta (ILPF). Pecuária Integrada Na viagem por Mato Grosso, o g1 conheceu um sistema de ILP que alterna soja e pecuária na Fazenda Água Viva, que também fica em Cocalinho. O diretor da fazenda, Eduardo Pereira, explica que, nesse modelo de produção, a plantação leva benefícios para a pastagem e vice-versa. "A soja fixa nitrogênio, que é um importante nutriente para o sistema de produção, principalmente para a forragem, para a pastagem", diz Pereira. Além disso, ele explica que as raízes dos capins são, normalmente, mais longas que as da soja, o que faz com que a planta consiga obter água e nutrientes das partes mais profundas do solo. Outra vantagem é que, assim como na intensificação de pastagem, os sistemas integrados reduzem a pressão por desmatamento. Numa mesma área, o pecuarista vai conseguir produzir mais, com a vantagem de poder diversificar a sua fonte de renda. Créditos deste episódio da série 'PF: prato do futuro' Coordenação editorial: Luciana de Oliveira Edição e finalização de vídeos: Gustavo Wanderley e Marih Oliveira Narração: Marih Oliveira e Paula Salati Reportagem: Paula Salati Produção: Paula Salati e Giovana Toledo Roteiro: Paula Salati Coordenação de vídeo: Tatiana Caldas e Mariana Mendicelli Coordenação de arte: Guilherme Gomes Direção de arte e ilustrações: Ana Moscatelli, Barbara Miranda, Bruna Rocha, Luisa Rivas, Vitoria Coelho e Veronica Medeiros Fotografia: Gustavo Wanderley e Idelson Gomes da Silva Motion Design: Veronica Medeiros Mais vídeos da série: PF, prato do futuro: o rastreamento de bois com chip na Amazônia O que a pecuária tem a ver com o desmatamento da Amazônia? Por que tem tanto boi na Amazônia?

FONTE: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/agro-de-gente-pra-gente/noticia/2024/07/26/o-que-faz-o-boi-soltar-menos-gases-que-levam-ao-efeito-estufa-conheca-as-tecnicas-usadas-em-mato-grosso.ghtml


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